terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Ciência com Consciência

A ciência não é somente uma acumulação de verdades verdadeiras. Digamos mais, continuando Popper: é um campo sempre aberto onde se combatem não só as teorias, mas também os princípios da explicação, isto é, também as visões de mundo e os postulados metafísicos. (p. 20)

O conhecimento científico não é o reflexo das leis da natureza. Traz com ele um universo de teorias, de idéias, de paradigmas, o que nos remete, por um lado, para as condições bioantropológicas do conhecimento (porque não há espírito sem cérebro), por outro lado, para o enraizamento cultural, social, histórico das teorias. (p. 21)

É, pois, necessário que toda a ciência se interrogue sobre as suas estruturas ideológicas e o seu enraizamento sociocultural. Aqui, damo-nos conta de que nos falta uma ciência capital, a ciência das coisas do espírito ou noologia, capaz de conceber como e em que condições culturais as idéias se agrupam, se encadeiam, se ajustam umas às outras, constituem sistemas que se auto-regulam, se autodefendem, se automultiplicam, se autoprogramam. Falta-nos uma sociologia do conhecimento científico que seja não só poderosa, mas também mais complexa que a ciência que examina. (p. 21)

A complexidade não nega as formidáveis aquisições do que puderam ser, por exemplo, a unidade das leis newtonianas, a unificação da massa e da energia, a unidade do código biológico. Mas estas unificações não suficientes para conceber a extraordinária diversidade dos fenômenos e o devir aleatório do mundo. (p. 149)

MORIN, Edgar. Ciência com Consciência. Portugal: Publicações Europa-América Ltda, 1982.